Kill, O Massacre no Trem (2023)

Um casal apaixonado, um noivado a contragosto, um casamento arranjado, uma paixão interrompida de um amor quase impossível, dois comandos da guarda nacional, um trem expresso, 40 ladrões, sacrifícios, dilemas morais, tragédias e mortes, muitas mortes. Essa é basicamente a premissa de Kill, O Massacre no Trem dirigido por Nikhil Nagesh Bhat,  filme indiano que mistura ação intensa, suspense e uma boa dose de melodrama.

Eu não sou uma grande consumidora de filmes indianos, costumo assistir quando me indicam ou quando algo desperta minha curiosidade e, O Massacre no Trem tem um atrativo especial que também pode despertar sua atenção e interesse em conferir a esse filme: a combinação perfeita entre ação frenética e melodrama, algo que faz muitos filmes asiáticos e latino-americanos se tornarem tão populares. Geralmente são tramas que mergulham profundamente em tragédias pessoais, que se entrelaçam com batalhas físicas intensas e muitas vezes impulsionadas por sentimentos de perda. Na direção de Nikhil Nagesh Bhat, a narrativa de Kill  começa apresentando os personagens e seus dilemas de forma envolvente, o que rapidamente nos conecta a eles. Mas, após essa introdução, o filme se transforma em uma sequência quase ininterrupta de ação, com raros momentos de respiro.

O protagonista, Amrit (Lakshya), é um soldado do comando da Guarda Nacional apaixonado por Tulika (Tania Maniktala), mas ela está prestes a se casar com outro homem em um casamento arranjado. Determinado a impedir isso, Amrit, junto de seu amigo e também soldado Viresh (Abhishek Chauhan), embarca em um trem que transporta a rica família de Tulika. O plano do casal é fugir juntos ao chegarem a Nova Déli. Contudo, durante a viagem, uma gangue de saqueadores liderada por Fani (Raghav Juyal) invade o trem com a intenção de roubar os passageiros. Eles são extremamente organizados e,  agora, cabe aos dois soldados a missão de derrotar os criminosos, proteger Tulika, sua família e os demais passageiros.

Mas há uma reviravolta: ao descobrir que o pai de Tulika é um poderoso empresário de transportes, Fani decide mudar os planos. O que começou como um simples assalto se transforma em um sequestro da família Singh, aumentando ainda mais a tensão e o perigo.

Se a narrativa começa tensa, mas ainda contida, isso serve apenas como prelúdio para o que está por vir após um evento devastador que ocorre por volta dos 40 minutos. Quando aparece na tela "KILL, O MASSACRE NO TREM", testemunhamos uma das quedas de cartela de título mais impactantes, preparando o terreno para o banho de sangue implacável e mortes super criativas que dominam as quase duas horas restantes. A partir daí, Amrit se transforma em uma fusão visceral de Yuda e Mad Dog (Operação Invasão) com John Wick, determinado a eliminar a gangue de criminosos com qualquer arma que cruze suas mãos. O trabalho do diretor é excelente ao utilizar o ambiente limitado e claustrofóbico do trem para criar cenas de luta brutalmente impressionantes, coreografadas com maestria por Parvez Shaikh e Se-yeong Oh. É o papel de estreia de Lakshya, o que deixa tudo mais impressionante e, embora ele e Tania Maniktala não dividam muito tempo de tela juntos, o melodrama funciona graças à química entre os dois, passando a sensação de que esse casal faria o impossível para ficar junto.

Fani, o líder da gangue, é tão bem construído que rapidamente despertamos um ódio profundo por ele, desprezando qualquer possibilidade de empatia que poderia surgir em algum momento. Sua frieza e crueldade em seguir com seu plano nos fazem sentir pena até mesmo dos bandidos, que lamentam e choram a morte de seus familiares, seja um tio, primo ou irmão. Eles formam uma grande família, seja por laços emocionais ou biológicos, e, como qualquer família, mesmo sem escrúpulos e princípios éticos sociais, deveriam estar lá para amar, proteger e cuidar. É o que o pai de Fani tenta fazer ao perceber o massacre devastador que já ocorreu e o que ainda está por vir, caso seu filho persista nesse plano suicida. No entanto, a ganância e a insensibilidade de Fani estão conscientemente conduzindo todos à ruína. Raghav Juyal, que dá vida a Fani, é dançarino, coreógrafo e apresentador de televisão. Ficou popularmente conhecido como o "Rei da Câmera Lenta" por seus movimentos de dança surreais em estilo de câmera lenta e por sua reinvenção do Slow Motion Walk na Índia. Fui procurar vídeos dele e, olha, o cara manja bem demais!

Já deu para perceber que no coração desse tipo de filme, encontra-se uma tensão emocional constante que só faz enriquecer as sequências de ação. Mesmo sendo um exemplar de Bollywood, você não encontrará sequencias de dança e cantorias, aliás, as únicas coreografias que você vai presencias são as lutas. Aqui não são apenas heróis e vilões envolvidos em lutas físicas, mas personagens complexos, cujas motivações muitas vezes surgem de feridas emocionais profundas com a mágoa de uma filha com o pai que força seu casamento com alguém que não gosta, ou de um filho com o pai cobrando a atenção paternal que nunca teve, ou de um homem enraivecido por um acontecimento trágico. É esse melodrama que permite nossa conexão de maneira mais visceral aos personagens, ao mesmo tempo em que amplifica o impacto das cenas de ação. A convergência desses dois gêneros transforma as batalhas em algo mais significativo, onde cada golpe e cada confronto não são meramente físicos, mas carregam o peso de conflitos interpessoais e emocionais criando um espetáculo que, a meu ver, vai além do entretenimento visual. 

Kill, O Massacre no Trem é um acerto tão grande e faz jus ao seu título, um deleite para fãs de ação onde, na maioria de seu tempo, prevalece a matança e a alta violência quase sem respiro. O filme mal estreou e já foi anunciado um remake hollywoodiano a ser lançado pela Lionsgate e a 87Eleven Entertainment, mas a Dharma Productions já bateu o martelo que nenhum outro remake em qualquer outra língua será permitido. Isso tá com cheirinho de franquia, hein?!



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