Bob é uma força da natureza e um mito no mundo do reggae, isso é inegável. Sua vida pessoal, sua crença, sua música e sua carreira impactam a vida de muitas pessoas até hoje e, embora Marley seja ainda essa lenda que influencia e transcende barreiras, seu filme, dirigido por Reinaldo Marcus Green, mesmo tendo bons momentos e seja uma celebração a um determinado momento de sua vida, não consegue capturar o impacto que a figura central dessa história merece.
O filme inicia estabelecendo o contexto histórico tumultuado da Jamaica por meio de um texto em letras brancas sobre fundo preto, destacando o período da independência sobre os britânicos. Logo em seguida, adentra em imagens impactantes, que, apesar da dureza, retrata de forma vibrante refletindo a crueza daquela realidade, mas se utilizando da rica e colorida cultura jamaicana da tapeçaria. Após essa introdução, somos levados a testemunhar momentos marcantes e dolorosos na vida de Marley, incluindo atentados, a tensão em torno de seu concerto pela paz na Jamaica, suas visões politicas e a mudança para Londres. É característico de cinebiografias selecionar momentos-chave na vida do biografado, e é exatamente isso que Reinaldo faz aqui, só que deixando uma sensação de vazio, superficialidade e de chapação que não chapa. Para os nomes envolvidos neste projeto, com pessoas da própria família de Bob, inclusive da própria Rita, acho que não só o público, mas principalmente Bob merecia mais.
Dito isto, Kingsley Ben-Adir, no papel de Bob, e Lashana Lynch, interpretando Rita Marley, formam uma dupla cativante na tela, possivelmente sendo eles e a trilha sonora os grandes atrativos de te fazerem ver One Love nos cinemas. O elenco de apoio também não fica atrás, a formação da banda de Bob tem um entrosamento muito bom reforçando as ótimas escolhas para intérpretes. O roteiro concentra-se principalmente na narrativa da construção do caminho de Marley e dos membros da banda The Wailers para a realização do álbum "Exodus" e seu subsequente sucesso mundial. Contudo, não negligencia os flashbacks que mostram a infância de Marley, sua relação com o pai, com Rita, a formação da banda e a primeira gravação.
Esses elementos são apresentados sob uma estética visual clichê e amarelada, algo comum em muitos filmes de Hollywood que retratam países fora da América do Norte desenvolvida. O espectador pode sentir que a abordagem superficial domina, concentrando-se mais em Marley como indivíduo do que na grandiosidade de sua lenda musical.
Porém, mesmo sendo esse grande amontoado de “ses” e abordagens rasas, One Love tem seus grandes momentos e emociona quando é feito para emocionar, ou seja, funciona quando tem que funcionar, principalmente para quem já é fã do homem e sabe que seu impacto vai muito além da indústria musical. O design de produção e direção de arte são impecáveis, consegue construir uma Jamaica que nos faz transportar para os lugares que inspiraram Bob a ser o que foi e o que é hoje. As paisagens, o colorido, os detalhes de recriação de cenários, de figurino e claro, de performance de palco, são nesses momentos musicais que One Love consegue capturar a essência de Bob com cada música que foi escolhida servindo como reflexo de suas mensagens, é quando a experiência transcende a tela de cinema e evoca o poder de sua música nos fazendo mergulhar de com força na história e se emocionar. Muitos pontos para Ben-Adir.
One Love ainda traz algumas facetas de Bob e de suas lutas por justiça social, sua inabalável fé, seu incansável compromisso em espalhar amor, seus desafios ao enfrentar preconceitos e seu problema de saúde, assim como também sua resiliência e paixão em viver. Tudo isso faz com que aumente nossa conexão não só com o filme, mas também com o que fez moldar o homem Bob. No geral, ainda que capenga, é uma produção cinematográfica imperdível para os fãs e para quem se interessa em saber do poder transformador da música.
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