“45 anos após o colapso, uma jovem Furiosa é tirada de sua família. Ela dedicará o resto de sua vida para encontrar o caminho de casa. Esta é a sua odisseia”.
Lembro das desconfianças quando este spin-off foi anunciado. É compreensível, afinal, Hollywood tem se especializado em criar e recriar histórias frequentemente, trazendo origens que parecem desnecessárias e desinteressantes. Poucos prelúdios conseguem se destacar como tramas independentes, mesmo estando ligadas a outras, como é o caso de X-Men: Primeira Classe (2011). Esse filme, apesar da desconfiança inicial, funciona não apenas como uma prequel, explorando as origens dos personagens e eventos que moldaram o universo X-Men, mas também como um filme solo. A grande pergunta era se realmente precisávamos de uma origem para a Imperatriz Furiosa. Bom, falo por mim, e graças aos deuses do apocalipse, podemos testemunhar mais um épico nas mãos de George Miller.
Em 2015, Estrada da Fúria elevou o conceito de filme de ação com imagens e sons grandiosos, impressionantes e impactantes. Há muito tempo não víamos esse gênero ser levado tão a sério e colocado na posição central que merecia. Sobrevivência, redenção, cenários apocalípticos e humanidade estavam presentes na trama, servindo unicamente ao exercício do gênero. Se pararmos para pensar, toda a saga Mad Max, desde o filme de 1979, sempre priorizou os aspectos visuais em detrimento de uma narrativa carregada de diálogos explicativos.
Acompanhamos Furiosa ainda criança (Alyla Browne), ela foi criada por um coletivo feminino conhecido como Muitas Mães ou Vuvalini, no lendário Green Place, um oásis de resistência no meio do deserto apocalíptico. Equipadas com energia solar e eólica, colheitas diversas e água doce, elas mantêm tudo em segredo para evitar saqueadores. No entanto, sabemos que seu destino é cair nas garras de tiranos perturbados que moldaram a Furiosa que conhecemos em Estrada da Fúria.
Sua odisseia começa quando ela é capturada por motoqueiros da ttribo de Dementus (Chris Hemsworth), um autoproclamado líder legionário que comanda uma gangue de saqueadores. Dementus tem planos para Furiosa: impressionar Immortan Joe, interpretado por Lachy Hulme, substituindo o lendário Hugh Keays-Byrne. No entanto, os planos do tirano são interrompidos pela mãe de Furiosa (Charlee Fraser), que tenta salvá-la, mas é tragicamente morta. Furiosa então, em um acordo, acaba nas mãos de Immortan Joe e, enquanto Joe e Dementus disputam cidadelas e recursos, Furiosa mantém seu plano de vingança, buscando liberdade e um retorno ao seu lar.
A performance de Chris Hemsworth como Dementus parece se divertir, mas me deixou a impressão de que seu personagem, mesmo gostando de estar no papel de vilão cruel, não consegue atingir o que se espera. Fiquei na dúvida de quem de fato era o bobo da corte, se ele ou Smeg (David Collins). A disputa estava acirrada e, infelizmente, é decepcionante, o que acaba por prejudicar o impacto do embate final com Furiosa e o desafio que ele propõe a ela. O confronto, que tinha potencial para ser inesquecível e épico, perde força devido à falta de profundidade na atuação de Hemsworth.
Em termos de estrutura, Furiosa é mais simples e se diferencia de seu antecessor. Enquanto Estrada da Fúria adota rapidamente um ritmo frenético de ação e perseguição quase em tempo real, com explosões, carros gigantes com tambores, acrobatas e guitarras no deserto, e foco em vários personagens, Furiosa opta por um ritmo mais lento e se concentra basicamente na personagem principal. Ao contrário do filme anterior, a história de Furiosa se desenvolve ao longo de anos, centrando-se em uma jornada de vingança praticamente solo. Esse aspecto é coerente e consistente na franquia, que destaca o foco fatalista de uma humanidade presa à tradição de guerras milenares e à saga dos guerreiros vingadores solitários e silenciosos.
Um momento crucial ocorre quando a Furiosa de Anya Taylor-Joy decide sair desse lugar de exército de um cavaleiro só e aceita lutar ao lado de Praetorian Jack (um subutilizado Tom Burke). Neste ponto, ela baixa a guarda e o filme também reduz o ritmo. A Furiosa que conhecemos em Estrada da Fúria foi moldada também pela frustração de uma relação interrompida de forma violenta, assim como a de sua mãe. Quando criança, enjaulada por Dementus, ela presenciava os assassinatos e crueldades do tirano, mantendo seu olhar atento a tudo. Alimentada pelas dores e tristezas, seu ódio crescia cada vez mais, assim como sua vontade de vingança.
É admirável como George Miller desafia as convenções de Hollywood em seus filmes de ação. Sua saga pós-apocalíptica não se contenta em ser apenas mais um filme rápido, barato e esquecível. Em Furiosa, ele quebra expectativas e evita repetir a fórmula de 2015. Esse diferencial é, talvez, o que tornou Mad Max uma franquia de sucesso, com cada filme da trilogia inicial trazendo elementos únicos que definiram a saga. Miller busca criar algo épico, memorável e de tirar o fôlego, e ele consegue. Junto com sua equipe de design de produção, cinematografia e figurino, ele supera qualquer desconfiança sobre o uso excessivo de computação gráfica, e prova que mesmo em meio a tanto CGI, existem humanos trabalhando por trás, pensando em cada arma, carro, roupa para poder manter a excelência vista em Estrada da Fúria.
Para mim, Furiosa - Uma Saga Mad Max não só enriquece Estrada da Fúria, mas também estabelece uma ligação espetacular com os filmes anteriores. Isso nos dá esperança de que Furiosa esteja no caminho certo, sugerindo que, com ela, o mundo pós-apocalíptico pode ter uma chance de redenção. Embora seja um filme de origem, Furiosa carrega sua própria identidade dentro da franquia. Espero que novas histórias continuem a ser exploradas, para que possamos finalmente chegar a Valhalla.
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