Contra o Mundo (2023)

Os filmes asiáticos de ação exerceram e ainda exercem influência significativa nas ações produzidas por Hollywood, seja moldando a estética, a narrativa, a forma como as histórias são contadas e até como os personagens são retratados. Um dos exemplos mais conhecidos e discutidos é Quentin Tarantino, que não se faz de rogado ao afirmar que bebeu muito da fonte cinema de ação asiático quando criou Kill Bill com suas lutas coreografadas e elaboradas de filmes de artes marciais chineses, japoneses e de Hong Kong. Contudo, vem da Indonésia o filme que é tido hoje como a maior referência contemporânea quando se fala em filmes de lutas, estou falando de The Raid ou Operação Invasão lançado em 2011. 

O filme dirigido por Gareth Evans, teve um impacto significativo não só no cinema de ação em Hollywood, mas também em geral quando trouxe para o centro coreografias e lutas super realistas e brutais em uma edição rápida ou sem cortes excessivos, assim como também o uso criativo de um único ambiente elevando muito a tensão. De Operação Invasão saiu também o nome de Yayan Ruhian, o inesquecível Mad Dog ou Cachorro Louco. Seu personagem foi tão emblemático que estamos aqui hoje falando dele hoje e não do policial protagonista. Mad Dog descrito pelo diretor Gareth Evans: "um psicopata tão implacável, frio e irredimível que quando ele mata alguém, ele quer sentir isso de tal forma que ele prefere matar um homem com as mãos nuas do que atirar nele”. Seu nome foi o motivo principal que me fez querer ver Contra o Mundo no cinema.

Bem, estamos em 2024 e o filme da vez é Contra o Mundo (Boy Kills World) do diretor alemão estreante Moritz Mohr. Filmado na África do Sul, exibido pela primeira vez no festival internacional de Toronto em 2023 e programado para ser lançado nos cinemas brasileiros em 25 de abril, próxima quinta-feira, a trama de vingança se passa em uma distopia com regime totalitário comandado por Hilda Van Der Koy (Famke Janssen). Ela faz parte da dinastia de uma família tirana e corrupta que estipulou um dia no ano como o dia do abate, onde doze pessoas são capturadas e mortas em um espetáculo para a população local por supostas acusações de conspirarem contra seu regime. 

Em um desses dias, Hilda mata a mãe e a irmã de um garoto que presencia tudo e promete vingança, sendo resgatado mais tarde por um homem conhecido como Xamã (Yayan Ruhian). Xamã treina o menino que agora é chamado de Boy (Bill Skarsgård), para ser seu instrumento de morte e ter sua imaginação e lembranças infantis reprimidas. Ele também não escuta e nem fala, mas ouvimos seus pensamentos vibrantes através de uma voz (H. Jon Benjamim) personificada pelo personagem favorito de seu vídeo game e que narra boa parte do filme. Acho que essa foi escolha super acertada do diretor que trabalhou junto com os roteiristas Arend Remmers e Tyler Burton Smith as piadas e o tom do humor que brincam até sobre corpos mutilados que são jogados na tela ou na sua cara. É o caos sendo elevado e emulando muito tanto videogames quanto algumas histórias em quadrinhos caóticas e viscerais. Te tira de tempo algumas vezes? Tira, mas também aproveita para deixar mais leve alguns momentos de gore mais pesado.

Voltando para Boy, ele cresce na selva, o que acaba sendo um plus em seu treinamento. Ele também tem visões com sua irmã morta, ela é seu elo com algum sentimento de humanidade que ainda lhe resta, sendo ao mesmo tempo, seu ponto de fraqueza que lhe impede de concluir seu treinamento, a medida que cresce e, assim, começar à sua vingança que poderá dar fim a toda família Van Der Koy. Fazem parte ainda da dinastia os irmãos de Hilda, Gideon (Brett Gelman) e Melanie (Michelle Dockery), Glen (Sharlto Copley) que é marido de Melanie, uma espécie de bobalhão da corte e fantoche nas mãos da esposa. E para completar, June 27 (Jessica Rothe), uma soldado porradeira badass que usa um capacete com viseira eletrônica onde ela se comunica e se lê mensagens de ordens; Basho (Andrew Koji) e Benny (Isaiah Mustafa) que fazem parte de uma espécie de resistência e acabam se tornando mais tarde parte da grande equipe que se junta a Boy para se vingar dos Van Der Koy.

Muito se fala sobre filmes de ação que se caracterizam, principalmente, por dar destaque e favorecer o espetáculo à narrativa. Em Contra o Mundo, o grande destaque é esse espetáculo acrobático caminhar em sintonia junto com a narração. Claro que o peso do drama fica a cargo do início e do fim, quando acontece as maiores lutas e as revelações começam a serem feitas. O problema, para mim, são essas revelações, um misto de previsibilidade e preguiça ao querer apelar para um emocional que, a meu ver, perde a sintonia com o que foi construído até esse momento tornando tudo muito anticlimático. 

Mas, ok, vou me apegar ao que o filme promete e cumpre, tiro, porrada, bomba, pé no bucho, mão na cara, membros decepados, muitas cabeçadas e criativas acrobacias, junte isso ao excelente passeio de câmera que em alguns momentos nos coloca quase dentro da luta, viramos praticamente um outro personagem que está prestes a bater e levar porrada também. Falando em porrada, termino esse texto deixando meu imenso desagrado ao desperdício que fizeram com Yayan Ruhian. Mesmo ele voltando no final com uma luta corpo a corpo e quase que totalmente artesanal, ainda assim queria mais dele. Vou ter que compensar isso revendo a Operação Invasão.








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