Superman (2025)

A esperança em tempos cínicos.

Saí do cinema com a sensação de ter recebido um abraço. Não aquele abraço sufocante de nostalgia barata, mas um abraço sincero, que reconhece o peso de carregar o “S” no peito e o faz com leveza. James Gunn, nesse novo Superman, olha pra trás, especialmente pro filme de 1978, e entende que o que ainda move Clark Kent não são os punhos, mas o coração. Quem fala isso é alguém que não conhece a fundo nem vive intensamente o mundo dos quadrinhos e dos filmes de super-herói, mas que mesmo assim foi assistir a este novo movida pela curiosidade e desprovida de qualquer expectativa comparativa ou obrigação de “saber tudo” e, claro, lembrando das infinitas conversas com o companheiro que, este sim, vive este mundo desde os 7 anos de idade. 

Na trama, Clark (vivido com carisma e doçura por David Corenswet) após impedir uma guerra com seus próprios meios, enfrenta uma campanha de difamação orquestrada por Lex Luthor (Nicholas Hoult, equilibrando o carisma cínico e a ameaça fria), que mina a confiança do público e da mídia no herói. Essa onda de descrédito e manipulação faz com que o próprio Superman comece a duvidar de seus propósitos na Terra. Ele se pergunta se realmente pertence aqui ou se sua presença gera mais medo do que inspiração.

Nesse turbilhão, a presença de Krypto, o supercão, funciona como um alívio emocional poderoso. Krypto não está ali só para piadinhas fofas, ele tem presença, força e representa um elo com as origens kryptonianas de Clark, mas também reforça o lado mais puro e afetuoso do personagem. A relação entre os dois traz momentos sinceros de ternura e funciona como um lembrete silencioso de que, mesmo sendo um alienígena superpoderoso, Clark continua precisando de afeto e companhia.

Essa crise de identidade ressoa muito com discussões sobre pertencimento, xenofobia e até mesmo com um subtexto racial: a ideia de um "forasteiro" que, apesar de tudo que faz pelo coletivo, é constantemente visto como uma ameaça ou alguém a ser controlado. Superman sempre foi um imigrante em essência, e aqui Gunn brinca com essa leitura, explorando a tensão entre identidade, aceitação e a expectativa do “salvador perfeito”.

Desde sua criação em 1938, o Superman sempre carregou a missão de ser um símbolo de esperança, um ideal quase impossível de se manter em um mundo que desconfia de tudo e de todos. Nos quadrinhos, ele costuma se guiar por princípios simples, quase infantis de tão puros, mas que ganham força justamente por parecerem inalcançáveis hoje. E Gunn resolveu resgatar isso com coragem. Em entrevistas, ele comentou que queria um herói que não precisasse ser “quebrado” para ser interessante. E o filme abraça essa escolha sem medo de parecer ingênuo.

O elenco sustenta muito bem essa vibe decente. Além de Corenswet e Hoult, Rachel Brosnahan entrega uma Lois Lane vibrante, afiada e cheia de presença, alguém que funciona como o eixo emocional e ético de Clark. O resto do elenco (como Skyler Gisondo, Nathan Fillion, Isabela Merced, Edi Gathegi, Wendell Pierce, Frank Grillo, ) também ajuda a compor um universo cheio de vida, mais humano e menos engessado do que costuma acontecer em blockbusters.

O tom do humor é outro acerto, ele surge de situações naturais, sem aquela sensação de auto-sabotagem que muitos filmes do gênero acabam caindo. O texto surpreende, conseguindo equilibrar doçura, tristeza e esperança sem cair no cinismo ou na piada forçada. Assim como os subtextos sobre identidade, pertencimento e solidariedade que aparecem de forma clara, mas nunca forçada. O arco de Clark se sente grande e épico, mas ao mesmo tempo íntimo e pessoal. E até eu que, como já disse, não leio gibis, consegui me conectar.

No fim, talvez o maior trunfo de Gunn seja lembrar que Superman não precisa ser reescrito como um anti-herói raivoso ou um semideus distante para ser relevante. Ele só precisa ser… Superman. Achei honesto e, num mundo tão cínico, isso já é muito.




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