Premonição 6: Laços de Sangue (2025)

Não é só sobre o que você vê... mas sobre o que corre em suas veias

Premonição 6: Laços de Sangue chega como o aguardado sexto capítulo da icônica franquia que, desde o ano 2000, vem explorando uma premissa simples, mas aterradora: não se pode enganar a Morte. Cada filme da série parte da mesma base com uma premonição, um grupo de sobreviventes e a inevitável perseguição da Morte tentando restaurar a ordem natural. No entanto, este novo capítulo se destaca ao oferecer uma mudança sutil, porém marcante, no tom da narrativa, e conta com uma das melhores sequências de abertura de toda a saga. Trata-se de um acidente elaborado com precisão quase coreográfica, que mistura tensão, surpresa e a dose de ironia que sempre foi marca registrada da série.

Nesta nova história com direção de Zach Lipovsky e Adam Stein, somos apresentados a Stefanie (Kaitlyn Santa Juana), uma jovem universitária que vê sua vida acadêmica abalada por pesadelos recorrentes envolvendo um misterioso acidente numa torre ocorrido nos anos 1960. De início, Stefanie parece uma protagonista pouco carismática, presa em conflitos já bastante conhecidos como o drama da filha que não se entende com a mãe e tenta se reconectar com o passado familiar. No entanto, ao longo do filme, a personagem consegue vencer esse distanciamento inicial ao menos comigo. Sua jornada pessoal, marcada pela dor do abandono, pela dúvida e pela coragem diante do inevitável, a torna mais humana e, com isso, mais interessante. Decidida a entender o que há por trás de suas visões, ela retorna à cidade natal e descobre que os sonhos estão ligados à sua avó, Íris (interpretada por Brec Bassinger quando jovem e Gabrielle Rose quando idosa), uma das sobreviventes do desastre. Como aprendemos ao longo da franquia, a Morte não esquece e agora retorna, implacável, para cobrar sua dívida com os descendentes daqueles que escaparam do destino final. Stefanie embarca, então, numa trajetória sombria para compreender a maldição que ronda sua linhagem e, talvez, encontrar uma forma de romper esse ciclo.

Laços de Sangue brilha especialmente ao reconhecer e brincar com sua própria mitologia. Os personagens não apenas vivem os eventos, mas também refletem sobre eles como se fossem espectadores dentro de um filme de terror. Uma abordagem metalinguística que funciona surpreendentemente bem. Aqui, ela é usada com inteligência e equilíbrio, conferindo um frescor raro para uma franquia que chega ao sexto longa. Esse recurso aproxima a obra de outras que também dialogam com o próprio gênero, como Pânico (1996), em que os personagens comentam abertamente as regras dos filmes de terror; A Morte Te Dá Parabéns (2017), que mistura slasher com ficção científica e humor autorreferente; e O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger (1994), que coloca os próprios atores enfrentando um mal que ultrapassa a ficção. Assim como essas produções, Premonição 6 entende sua própria história e a utiliza não apenas como homenagem, mas como elemento essencial de sua narrativa.

O humor, um dos pontos altos da produção, também tem espaço neste sexto filme e surpreende positivamente. Ele não diminui a tensão, mas a acompanha, oferecendo respiros cômicos que reforçam a autoconsciência do roteiro. É como se a franquia dissesse: “sabemos o quão absurdo isso tudo pode parecer, e vamos nos divertir com isso”. O texto brinca com expectativas, subverte algumas das “regras” estabelecidas nos filmes anteriores e ainda sugere novas direções possíveis, como se provocasse os fãs a repensar o que acham que sabem sobre o universo de Premonição.

Outro grande ponto alto é a presença de Tony Todd. Figura recorrente que aparece no primeiro Premonição, volta no segundo, retorna em uma participação especial de voz no terceiro e só volta a aparecer no quinto. Seu personagem, William Bludworth, o agente funerário que parece ser um porta-voz da Morte, sempre foi envolto em mistério. À primeira vista, ele carrega alguns tropos clássicos do gênero, como o do "Homem Negro Assustador" ou o “Negro Místico”, uma figura enigmática e sombria que antecipa o destino trágico dos personagens e dá conselhos aos jovens. E, como era de se esperar de alguém interpretado por Tony Todd, essa presença é ao mesmo tempo imponente e hipnotizante. O interessante é que Bloodline vai além da superfície em relação a WB e acaba oferecendo, finalmente, uma resolução simbólica e surpreendentemente sensível para o personagem. Sem entrar em spoilers, o longa encontra uma forma de integrar Bludworth ao cerne emocional da trama, dando ao personagem e, ao próprio ator, a profundidade e um encerramento digno que faz jus ao seu legado dentro da franquia.

Todd foi mais do que um rosto marcante, foi praticamente uma entidade com quase 80 (ou mais) participações em filmes de terror. Eternizado pelo papel em Candyman (1992), sua voz grave e postura imponente o tornaram um dos ícones mais consistentes do horror contemporâneo. A homenagem feita em Laços de Sangue não soa como mera formalidade, e sim como um adeus sentido e digno, à altura do legado que ele deixa. Muito justo o filme ser dedicado à sua memória. Sua despedida é uma das maiores virtudes do filme, e deve emocionar os fãs que o acompanharam por décadas. Se chorares na sala de cinema como eu chorei, não se envergonhe. Tamo junto!

Agora, se me permite um ranking pessoal como todo fã da franquia faz de tempos em tempos, já adianto, Bloodline entra no meu top 3 fácil. O primeiro filme, claro, é insubstituível por criar a mitologia e ditar as regras. O terceiro segue como um favorito cult com sua ambientação de parque de diversões e tensão bem construída. O sexto agora surge como uma grata surpresa: reverente, criativo e emocionalmente ressonante. O segundo tem a melhor abertura de todas (aquele acidente de estrada é tão icônico que além de ter traumatizado gerações, ecoa nos filmes seguintes), mas o resto é meio morninho. O quinto merece crédito por sua reviravolta final conectando tudo como um prelúdio, um toque deveras engenhoso. E o quarto… bem, o quarto só tá aqui por protocolo mesmo. Honestamente, nem precisava ter existido.

No fim, Premonição 6: Laços de Sangue consegue o que poucos sextos filmes conseguem: ser fiel às raízes e, ao mesmo tempo, apontar para algo novo. É brutal, criativo, respeitoso com seu legado e inteligente o suficiente para rir de si mesmo sem perder o impacto. Muito desse equilíbrio vem da mão firme dos diretores que, ao lado dos roteiristas Guy Busick e Lori Evans Taylor, a partir de uma história desenvolvida em conjunto com Jon Watts, conseguiram entender o que torna essa franquia tão única e ao mesmo tempo tão divertida. É como se eles fossem fãs de longa data, mas com liberdade criativa para fazer algo que olhe para frente. Raros são os casos em que uma franquia chega tão longe sem se esgotar por completo. Assista nos cinemas a partir desta quinta-feira, 15 de maio.

Se curte meu trabalho, que tal me pagar um cafezinho? Além de aquecer o coração, ajuda a manter a criatividade cafeinada e eu fico agradecida até a última gota! 



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