Tuesday, O Último Abraço (2023)



A morte, a dor do luto, a superação tem sido temas recorrentes e fascinantes ao longo da história do cinema. A morte já foi personificada por um cavaleiro vestido de preto que joga xadrez em O Sétimo Selo (1957, Ingmar Bergman), já foi uma figura humana na forma de Brad Pitt em Encontro Marcado (1998, Martin Brest), foi também representada por duas bruxas em Inferno (1980, Dario Argento), além de várias representações literais da imagem com cara de caveira, manto preto e na mão um ceifador.

Em Tuesday, O Último Abraço, filme de estreia na direção de Daina O. Pusic, a morte, a tristeza, o luto e a superação se manifestam de uma maneira interessante e estranha. Estrelado por Julia Louis-Dreyfus no papel de Zora, uma mãe solo que lida, do seu jeito, com a perda iminente de sua filha adolescente Tuesday (Lola Petticrew). À medida que a filha passa o dia em casa ora sentada em uma cadeira de rodas, ora deitada na cama sempre acompanhada de um balão de oxigênio esperando a morte chegar e aos cuidados de uma enfermeira, a mãe sai cedo de casa e finge ir trabalhar, entretanto o que ela mais faz é ficar deitada em bancos de parque comendo queijos e fugindo de sua realidade enquanto der. Até que em uma manhã, a Morte, na forma de um pássaro laranja parecido com um papagaio, que muda de tamanho e fala (voz de Arinzé Kene), aparece para Tuesday. Ela entende na hora a mensagem e na tentativa de engabelar a Morte, lhe conta uma piada super engraçada que faz a a inevitável rir, concedendo assim mais tempo de vida para a garota. 


Desde as primeiras imagens do filme é mostrada a Morte em ação que escuta o chamado de pessoas que estão morrendo e vai até elas para lhes dar o alívio passando por elas sua enorme asa plumada. No entanto, com Tuesday foi diferente, a Morte lhe confessa: “Um dia bom é um dia sem aflição” e, ao conseguir arrancar gargalhadas da Morte, algo muda no ser (quase) implacável fazendo com as duas criaturas passem um dia de “melhores amigas”. Elas fumam maconha, a Morte toma banho em uma das cenas mais significativas do filme, ouvem Ice Cube e Tuesday pede a Morte para deixá-la ver sua mãe antes que ela a leve embora. Mas, Zora não atende as ligações da filha, mantendo a pose de mulher muito ocupada com o trabalho. Tuesday ainda insiste na misericórdia da Morte, pedindo que só a leve quando a mãe chegue em casa. Só que as coisas dão errado, para dizer o mínimo, quando a ficha de Zora cai para o que está prestes a acontecer, ela ateia fogo no pássaro e o come, tentando impedi-lo de matar sua filha. A partir daí, ela fará qualquer coisa para ficar com Tuesday. 

O que antes parecia ser as jornadas individuais de superação de cada personagem, passa a ser uma jornada coletiva a partir do momento em que Zora adquire super poderes, já que está com a Morte dentro dela. Ela escuta vozes de moribundos, cresce e diminui de tamanho e, a mais grave das consequências de seu ato egoísta, ninguém, nem gente nem animal, morre no mundo. Vemos pessoas agonizando com facadas, tiros, desmembradas por acidentes, desastres e mais desastres acontecem tudo por causa de um ato insano e desesperado de uma mãe. Fica claro que tudo e toda vida precisa ter um fim. Pusic, que também escreveu o filme, permite a Zora uma gama completa de emoções e reações, algumas delas verdadeiramente bizarras e aqui muitas palmas para o talento mutável de Louis-Dreyfus que abraça a estranheza surreal do filme e de sua personagem. Petticrew também cativa de com força o coração do espectador com suas interações com a Morte, oferecendo as melhores cenas do filme. 

Eu realmente gostei deste filme, gostei demais da forma diferente da representação da morte, da abordagem fabulesca e do realismo mágico presentes em certos elementos. Foi uma grata surpresa experienciar como uma realizadora novata deixa sua mensagem sobre morte e luto, a importância e profundidade que dá a cada personagem e chegar ao fim do filme com a certeza de que ela, a Morte, não só é inevitável como também necessária e, nosso pós vida (ou morte), vai depender do legado e de como vivemos na memória de cada um que passou por nós.  

Tuesday, O Último Abraço visto em cabine a convite da Paris Filmes e Espaço Z Assessoria, estreia dia 01 de agosto nos cinemas brasileiros.


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