The Mafu Cage (1978)


Duas irmãs, a astrônoma Ellen Carpenter (Lee Grant) e a desenhista Cissy (Carol Kane) vivem em Los Angeles numa casa que parece a cópia de alguma selva em que viveram com o pai antropólogo quando eram crianças. Elas agora estão de luto pela morte dele e, enquanto Ellen é uma profissional dedicada, estudiosa do sol e cortejada por seu colega de trabalho David (James Olsen). Cissy, que visivelmente sofre de alguma perturbação emocional, vive todo seu tempo em casa com seus desenhos e parece se distanciar cada vez mais da realidade. 

The Mafu Cage é um filme praticamente desconhecido que merece muito ser visto e comentado. O conheci quando Jéssica Reinaldo e Michelle Henriques falaram dele no podcast The Witching Hour. Desde então fiquei numa busca desenfreada para conseguir uma legenda e nada de encontrar mas…quem tem amigos que amam a sétima arte, tem tudo né. Agradeço a Tiago pela graça alcançada.

A direção fica a cargo de Karen Arthur com roteiro de Don Chastain e Éric Wesphal. Karen, além de diretora é produtora e atriz, dirigiu os longas, Legacy (1975), The Mafu Cage (1978) e Lady Beware (1987). Porém, a maior parte de seu trabalho é na tv dirigindo episódios para séries de TV e telefilmes. 

A trama aparentemente simples, parece carregar subtextos interessantes e polêmicos sobre uma possível relação incestuosa das duas irmãs. Ellen praticamente abdicou de sua vida para ser aquela que cuida da irmã, a qual não consegue se desvencilhar da vida que seu pai teve. Tudo ela quer emular a vivência que tiveram na África como trancafiar orangotangos que acabam sendo mortos em atos de fúria de Cissy. No jardim da casa enquanto corpos dos primatas estão sendo enterrados com a cumplicidade de Ellen, Cissy se entrega a birras e antigos rituais de povos africanos para que a irmã consiga um novo Mafu com o amigo da família e criador da espécie, Zom (Will Geer). Quem se interessa por filmes de horror com abordagens psicanalíticas, The Mafu Cage é um prato cheio. É muito interessante o jogo de tensão entre as irmãs e perceber que Ellen já não aguenta mais. A irmã ouve ela confessando a Zom sobre a vontade de se entregar ao colega de trabalho que a corteja, mas tem medo de se afastar e deixar Cissy num hospício. No entanto, é justamente num momento em que Ellen se afasta para fazer uma viagem profissional que acontece o momento mais tenso e doloroso da trama: a ruptura da realidade de Cissy. 

Além dessas questões de gênero, há ainda o subtexto racial, pois são duas irmãs brancas, mas uma delas a Cissy, é quem mais se apropria de elementos, ritos, rituais, maquiagens e músicas étnicas de uma cultura a qual não lhe pertence, mas ela por ter crescido nesse meio, se sente inserida, acolhida e pertencente. Apesar de ficar mais à vontade com os animais, mais especificamente com seus Mafus que prende numa gaiola dentro de casa, mimada, não suporta ser contrariada e não ser atendida em suas vontades. Suas frustrações são descontadas nos pobres dos animais, coitados. É irritante em vários momentos e mesmo torcendo que ela consiga vencer essa barreira da fuga emocional, a cada minuto é nítido que ela vai se perdendo e se distanciando de atitudes mais racionais até colapsar por completo.

The Mafu Cage é incrível, estranho, fascinante e eu poderia escrever aqui trezentos adjetivos para definir esse filme, além da atuação hipnotizante de Carol Kane. Karen Arthur se dedicou com afinco na pesquisa sobre o tema de mulheres e colapso mental. Passou semanas num hospital psiquiátrico e as peças de arte que decoram a casa das irmãs, ela conseguiu emprestado em galerias de arte. Espero sinceramente que redescubram essa obra. Espero também que ouçam o programa de Jéssica e Michelle pois traz muitas referências teóricas e comentários ricos sobre o filme. 





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